Altas habilidades cognitivas costumam ser associadas a excelência acadêmica, destaque profissional e facilidade em resolver problemas complexos. Mas, segundo um estudo recente, esse mesmo brilho intelectual pode esconder desafios emocionais intensos e até incapacitantes.
O estudo “Superdotação: Uma Análise dos Sintomas e Suas Bases Genéticas e Neurológicas”, publicado na revista científica Cuetiones de Fisioterapia pelo Pós PhD em neurociências Dr. Fabiano de Abreu Agrela, em parceria com o psicanalista Adriel Silva e os pesquisadores Júlia Lima, Natália Aparecida e André Di Francesco apresenta uma nova proposta de análise da superdotação: o conceito de superdotação desequilibrada.
O perfil emocional
O artigo mapeou 12 sintomas emocionais e comportamentais recorrentes em indivíduos com alto QI, mas que enfrentam dificuldades para manter o equilíbrio emocional.
Entre os sinais observados estão a busca incessante por estímulos, a ruminação sobre tarefas inacabadas, a alta capacidade de decisão contrastada por exaustão emocional e uma intensa oscilação de humor.
A proposta do grupo é que, ao menos cinco desses sintomas, reunidos em uma mesma pessoa, indiquem um quadro de superdotação desequilibrada.
“A alta performance cognitiva muitas vezes vem acompanhada de uma sobrecarga emocional silenciosa. Esses indivíduos não raramente são vistos como ‘gênios’ produtivos, mas internamente podem estar em conflito constante”, explica o psicanalista Adriel Silva.
O cérebro está ligado às emoções
O estudo sugere que essas manifestações emocionais não são apenas fruto do ambiente, mas estão relacionadas a fatores genéticos e neurobiológicos específicos, como alterações na atividade do sistema límbico, do córtex pré-frontal e do núcleo accumbens, regiões ligadas à regulação emocional, recompensa e tomada de decisão. Genes como BDNF, COMT e MAOA, também foram citados como influentes na predisposição ao estresse e à instabilidade emocional nesses perfis.
“É como se o cérebro desses indivíduos estivesse sempre em alta rotação. A mente não para, e isso pode levar a um desgaste emocional que compromete o bem-estar, mesmo com o reconhecimento externo do seu talento”, complementa Adriel Silva.
A pesquisa também chama atenção para o risco de diagnósticos equivocados. Como os sintomas se assemelham a quadros de ansiedade, TDAH ou até transtornos do humor, muitos superdotados terminam tratados por condições que não contemplam a raiz de sua vivência interna.
“Esses indivíduos precisam de uma escuta qualificada, que entenda sua complexidade emocional sem patologizá-los de forma reducionista. A superdotação não deve ser vista apenas como dom, mas como uma condição que exige cuidado emocional contínuo”, afirma o psicanalista.
Os pesquisadores defendem ainda que escolas e profissionais da saúde mental estejam mais preparados para reconhecer a superdotação desequilibrada como uma condição específica, que demanda abordagens terapêuticas personalizadas, com foco em autorregulação emocional, gestão da sobrecarga mental e equilíbrio entre desempenho e bem-estar.
.“É necessário compreender que a mente brilhante também pode ser vulnerável. Por trás da genialidade, pode haver um sofrimento legítimo, que precisa ser acolhido com humanidade e ciência”, resume Adriel Silva.
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