Neste final de semana, um novo capítulo da guerra civil síria se desenrolou com a tomada de Aleppo, a segunda maior cidade do país, por grupos rebeldes islâmicos que combatem o governo de Bashar al-Assad. A cidade, que tem cerca de 2 milhões de habitantes, foi alvo de ataques por parte das forças aéreas sírias e russas, que bombardeiam as posições dos rebeldes, não apenas em Aleppo, mas também na província de Idlib, sob controle de grupos jihadistas. Conforme informações da Agência Brasil, a situação em Aleppo tem se agravado com a intensificação dos confrontos.
Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram homens armados desfilando pelas ruas de Aleppo, cidade que já havia sido dominada por rebeldes em 2016, mas havia sido recapturada pelas forças de Assad com o apoio da aviação russa. Agora, com a retomada dos insurgentes, eles impuseram um toque de recolher, e as autoridades sírias afirmam que o exército do país está reagrupado em Hama, ao sul de Aleppo. Conforme publicado pela Agência Brasil, as forças sírias e russas estão intensificando os ataques aéreos, visando atingir locais estratégicos dos rebeldes, como quartéis-generais e depósitos de armas, resultando em muitas baixas entre os insurgentes. “O terrorismo só entende a linguagem da força, e é essa linguagem que usaremos para derrotá-los, independentemente dos seus apoiantes”, afirmou Assad, em pronunciamento sobre a situação.
De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, a ofensiva rebelde começou na última quarta-feira (27), resultando na morte de mais de 300 pessoas e na fuga em massa de civis de Aleppo.
Grupos Rebeldes e a Guerra Santa
Entre os diversos grupos que lutam contra o governo de Assad, destaca-se o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), uma organização jihadista com raízes na Al-Qaeda. Desde sua criação em 2011, o HTS tem defendido a implementação da Sharia, a lei islâmica, na Síria, em contraste com o regime secular de Assad. A professora Rashmi Singh, especialista em Relações Internacionais da PUC Minas, explica que o HTS surgiu como uma extensão da Al-Qaeda, mas acabou se distanciando dessa organização ao longo dos anos.
Singh também aponta que a guerra no Líbano, com o enfraquecimento do Hezbollah após os ataques israelenses, criou um vácuo que permitiu a ofensiva dos jihadistas por cidades-chave, como Aleppo. O Hezbollah, um dos maiores aliados de Assad, perdeu força, o que abriu caminho para os ataques rebeldes.
Guerra Proxy e Apostas de Potências Globais
O conflito na Síria, que já causou a morte de cerca de 300 mil pessoas e deslocou milhões, é visto como uma guerra proxy, com potências globais lutando por influência na região. O professor Mohammed Nadir, da Universidade Federal do ABC (UFABC), destaca que as grandes potências ocidentais, especialmente os Estados Unidos, têm apoiado grupos armados na tentativa de derrubar regimes como o de Assad, considerados hostis aos interesses do Ocidente.
“Desde o início, o Ocidente viu a Primavera Árabe como uma oportunidade para minar os regimes não alinhados, como o de Assad, e o apoio a grupos jihadistas foi uma das formas de enfraquecer o regime sírio”, afirmou Nadir. Além disso, a Turquia, a Arábia Saudita, o Qatar e os Emirados Árabes Unidos também forneceram suporte aos rebeldes. Para Nadir, a ofensiva em Aleppo pode ser uma tentativa de desgastar a Rússia, que tem interesse estratégico na Síria, principalmente para manter sua base militar no Mediterrâneo.
Embora a ofensiva rebelde tenha avançado em Aleppo, o professor acredita que será difícil para os grupos jihadistas manterem o controle da cidade, dada a resistência feroz que o regime sírio, com o apoio da Rússia, deve oferecer. “A reconquista de Aleppo será sangrenta e muito difícil para os rebeldes”, conclui Nadir.
A guerra na Síria continua a ser um complexo cenário de disputas geopolíticas e religiosas, com consequências devastadoras para a população civil e um futuro incerto para o país.
Fonte: Agencia Brasil/Ponto Real News