O programa ‘Brasil Sem Desperdício’ foi recém-lançado em São Paulo. Trata-se de um pacto nacional que reúne empresas, governos, instituições de pesquisa e organizações da sociedade civil em um esforço colaborativo para reduzir a perda e o desperdício de alimentos em toda a cadeia produtiva brasileira.
A iniciativa aborda um desafio urgente: o combate ao desperdício de alimentos. Em todo o mundo, o desperdício de alimentos resulta no descarte de mais de US$ 1 trilhão em alimentos todos os anos, segundo o Relatório de Índice de Desperdício de Alimentos 2024, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O cenário é ainda mais grave no Brasil devido à insegurança alimentar, que afeta 24,2% dos lares brasileiros ou cerca de 66 milhões de brasileiros, de forma leve, moderada ou grave, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) – Segurança Alimentar 2024, divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O ‘Brasil Sem Desperdício’ faz parte da Rede Pacto Global pela Alimentação, promovida pela WRAP, organização internacional de ação ambiental reconhecida por estruturar acordos multissetoriais contra a perda e o desperdício de alimentos em diversos países.
No Brasil, a WRAP escolheu o WWF-Brasil como parceiro local. O WWF-Brasil é responsável por coordenar a iniciativa e conectar os diversos setores envolvidos. Para a implementação das iniciativas, o WWF-Brasil fará parcerias com outras organizações importantes, como a Connecting Food e o Instituto Pacto Contra a Fome, organizações com vasta experiência na redução de perdas e desperdícios de alimentos.
As empresas signatárias são participantes de um acordo voluntário multistakeholder. Elas se comprometem a definir metas, mensurar resultados e atuar em suas operações e cadeias de valor, alinhadas à metodologia internacional de redução de perdas e desperdícios. Entre as empresas que assinaram uma carta de intenção em se tornar signatárias estão: Accor, Assaí, Bauducco, Carrefour, Cucinare, GPA, MBRF, Nestlé, Pepsico e Quitanda.
Entre as instituições que assinaram carta de intenção em se tornar apoiadoras do programa ‘Brasil sem Desperdício’ estão: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA); Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS); Instituto Akatu; Sesc; GoodTruck; All4Food Network e Fundação Ellen MacArthur.
Daniela Teston, diretora de Relações Corporativas do WWF-Brasil, enfatizou o caráter colaborativo do pacto. “Estamos construindo um ambiente em que cada empresa ou instituição signatária receberá apoio técnico e científico para alcançar resultados concretos. Acreditamos que, juntos, podemos transformar o Brasil em um líder global no combate ao desperdício de alimentos”.
David Rogers, diretor de Desenvolvimento Internacional da WRAP, destacou a importância do Brasil para a agenda global: “Cerca de 10% das emissões globais vêm dos alimentos que desperdiçamos — mais do que a aviação —, o que significa que o desperdício de alimentos está literalmente alimentando as mudanças climáticas. Como grande produtor de alimentos, o Brasil tem um papel fundamental a desempenhar, e o Brasil Sem Desperdício acrescenta impacto local ao programa global”.
Para Andreza Ranieri, gerente de ESG Accor Américas, “o combate ao desperdício de alimentos é um desafio que exige colaboração e inovação. No setor de hospitalidade, cada etapa, do planejamento de cardápios à gestão de resíduos, pode gerar impacto positivo quando olhamos para a cadeia de forma integrada. Participar do pacto ‘Brasil Sem Desperdício’ reforça o compromisso da Accor com uma operação mais responsável, alinhada às metas globais de redução de emissões e ao nosso propósito de transformar a hospitalidade em uma força para o bem”.
Como funciona o pacto
O pacto adota a metodologia “Definir, Medir, Agir”, já aplicada com sucesso em outros países. Essa abordagem apoia empresas e instituições na definição de metas específicas, na implementação de soluções práticas e na mensuração dos resultados alcançados.
Na cadeia de produção de alimentos, a metodologia permite identificar gargalos em cada etapa — da colheita ao consumo —, estabelecendo metas claras, medições precisas e ações direcionadas. Isso aumenta a eficiência do setor, reduz perdas financeiras e contribui para a sustentabilidade ambiental e social.
Benefícios esperados para os signatários
Ao aderir ao programa, empresas e instituições brasileiras ganham acesso a uma série de vantagens estratégicas, entre elas:
- Eficiência operacional e redução de custos por meio da identificação e correção de desperdícios;
- Preparação para novas regulamentações, antecipando futuros requisitos de relatórios obrigatórios;
- Fortalecimento da reputação e da marca, com reconhecimento público do compromisso sustentável;
- Conexão com líderes globais, academia e governos, acelerando o aprendizado e a troca de experiências;
- Acesso a casos de sucesso internacionais, com exemplos práticos já implementados em países como Reino Unido, Austrália e México.
Impacto global e brasileiro
A experiência internacional comprova a eficácia do modelo. No Reino Unido, por exemplo, o pacto nacional reduziu o desperdício de alimentos em 18,3% entre 2007 e 2021. Na Austrália, houve uma redução de 13% em apenas dois anos, enquanto no México, iniciativas com o setor hoteleiro resultaram em reduções de desperdício de até 30%.
No Brasil, espera-se que os relatórios nacionais anuais consolidem resultados tangíveis nos primeiros anos, gerando transparência e aprendizado coletivo. O país também tem potencial para assumir um papel de liderança global nessa questão, especialmente como anfitrião da COP30, em que a transformação dos sistemas alimentares será um eixo central da agenda climática.
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